sábado, 19 de setembro de 2009

O homem e sua pá

Há muito tempo, sua pá era sua única companhia. Seu trabalho era árduo, mas muito simples. Só tinha que colocar a areia, que caía da esteira, novamente na esteira. Não tinha que resolver problemas nem se preocupar com mais nada. Era só a pá, ele e Deus (ou pelo menos, ele e a pá).
E assim seguiam os dias. O ontem era igual ao hoje e o amanhã não seria diferente. Afinal, quem precisa de novidades? Nada de aborrecimentos, choros ou risos. Raramente alguém passava por seu local de trabalho. E mais raramente ainda, queriam saber o que ele achava das coisas.
Num desses dias incomuns, um sujeito estranho lhe perguntou o que sabia sobre a economia do país. Ao ver a indagação nos seus olhos, o cara estranho perguntou sobre a política de seu estado. Novamente a resposta foi uma tremenda expressão de dúvida. Depois sobre as novidades da cidade, religião, e por último sobre a empresa que trabalhava. Como a resposta era sempre a mesma, o estranho cansou e foi-se embora.
Que sujeito idiota, pensou o homem. Como ele poderia imaginar que eu saberia todas aquelas coisas? Se a única coisa que faço é trabalhar com essa maldita pá, dia e noite!?
E, ao dizer isso, tomado por súbito esclarecimento, o homem jogou a pá para longe de si e foi conhecer o mundo.
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Fabiano Che

7 comentários:

Giuliano Marley disse...

Sensacional!
Formidável!
Magnífico!
Estupendo!
Proparoxítono!

Certamente você teve uma inspiração divina (ou pelo menos uma inspiração).


Tento veementemente ser esse sujeito estranho. Mas não dá! Não estou conseguindo. Talvez se eu não me esforçasse tanto… Não sei!

Eduarda Ramos disse...

em busca de um maior conhecimento o/

Anônimo disse...

Magnesita SA is a bitch

palavras ao vento disse...

temos que sair do nosso mundinho e ver as coisas ai redor...nunca podemos nos acomodar...sempre ha algo novo a descobrir...

Unknown disse...

muito bom o texto, realmente não devemos nunca nos acomodar temos sempre que buscar coisas novas e aprender sempre!

ailton disse...

Na minha falta de inspiração para falar, deixo uma música que, ao meu ver, tem tudo a ver com o texto. A música pertence a Banda Camisa de Vênus (Apesar da composição não ser originalmente dela, ficou uma ótima versão).


A Canção do Martelo
Marcelo Nova
Composição: Alex Harvey - Versão Marcelo Nova


"Oh não, não me dispense; disse o homem com o martelo
Martelando na bigorna
Eu tenho trabalhado nessa estrada de pedra
Eu fico martelando, eu fico martelando, eu fico martelando
Martelando na bigorna
Não, não deixe o sol se por; disse o homem com o fogo
Fogo na fornalha
Estou aqui tremendo de frio
Mas mantenho o fogo, eu mantenho o fogo, mantenho o fogo
O fogo na fornalha

Não, não fale assim; disse o homem modelando
Modelando a superfície
Eu não durmo a mais de uma semana
Eu fico modelando, eu fico modelando, eu fico modelando
Modelando a superfície

Não sei o que você quer de mim; disse o homem com a pá
Cavando na lama
Eu tenho respirado toda essa sujeira
Eu fico aqui cavando, eu fico aqui cavando, eu fico aqui cavando

Cavando na lama
Modelando a superfície
O fogo na fornalha
Martelando na bigorna
Martelando na bigorna

Oh não, não me dispense; disse o homem com o martelo
Martelando na bigorna
Eu tenho trabalhado nessa estrada de pedra
Eu fico martelando, eu fico martelando, eu fico martelando
Martelando na bigorna
Cavando na lama
Modelando a superfície
O fogo na fornalha
Martelando na bigorna
Martelando na bigorna"

Vanessa Gomes disse...

Caraaaaca, quanto tempo não vinha aqui.

Texto incrível.

Vou jogar minha pá fora.