sábado, 24 de janeiro de 2009

Caminho das Índias

Acaba mais uma novela e entra mais uma novela. É isso! E o círculo vicioso continua.
Quando a última novela acabou, perguntei a um telespectador (não com essas palavras, evidentemente): "O que essa novela acrescentou em sua vida que pode ser usado de forma que ajude alguém ou a si próprio em alguma ocasião?" A resposta foi o silêncio. Não que meu interlocutor tenha usado esse silêncio como uma pseudo-eloqüência. Pelo contrário, apenas ficou se perguntando: "o que essa novela acrescentou em minha vida que pode ser usado de forma que ajude alguém ou a mim mesmo em alguma ocasião?" Não que ele não soubesse, mas sim que não havia resposta, porém, sua ignorância o fez ficar se perguntando em vez de refletir. Então, como já foi constatado antes, por alguns, de diversas maneiras, as novelas não servem pra nada. Podem até dizer que divertem o público, mas eles estariam se mostrando muito limitados com essa resposta.
Está bastante claro, suficientemente claro para que todos vejam, mas é bom expor os fatos mesmo assim. As novelas se fundamentam numa história padronizada, onde a busca da personagem principal é sempre baseada na luta pelos braços da pessoa amada, na qual ela deve lutar contra todos os que são opostos ao romance e, principalmente, lutar contra aquela pessoa que quer tomar o seu amor. E essas pessoas "do mal" estão sempre traçando um caminho de maldades e injustiças, baseadas no que o popular conhece na realidade, às vezes se identifica, e de forma hipócrita repudia.
Além disso, há as personagens ambiciosas, aquelas que fazem tudo pelo dinheiro, inclusive gastar muito dinheiro para ter dinheiro. Parece até o desenho do Coiote e do Papa-Léguas, onde o Canis latrans compra várias armadilhas para pegar a ave e se esquece de comprar comida para matar sua fome e, conseqüentemente, parar de perseguir sua presa.
Cenas de sexo não podem faltar numa novela. É impressionante como não há, nas madrugadas da televisão brasileira, filmes pornôs ou de nudez, mas há cenas quentes de sexo em pleno (dito) horário nobre.
As novelas também tentam se mostrar moralmente responsáveis. Sim, elas tratam do racismo, da homofobia, da violência doméstica, da pedofilia, do aquecimento global, mas duma forma tão estúpida e estereotipada que acaba deixando os "defendidos" bastante lesionados.
Acho que já deu pra entender um pouco de novela e de sua inalterabilidade. Se eu fosse listar todas as mesmices desse tipo de "espetáculo", como afro-descendentes nos papéis de pobres serviçais ou de ricos corruptos, madames cobertas de jóias tomando sucos em plena praia de Copacabana à noite, morte da personagem "má", ficaria aqui por muito tempo.
Mas onde quero chegar mesmo é na nova novela que estreou há alguns dias. Seu nome é, para os abençoados que não sabem, "Caminho das Índias". Assisti hoje (como um fumante passivo) a essa novela e foi bem o que eu esperava: estereótipos, clichês e idéias preconcebidas.
Talvez eu esteja falando demais, pois não assisti a essa novela completamente (sorte a minha). Mas os personagens são todos de pele clara e traços europeus. Longe dos verdadeiros hindus, pessoas de estatura mediana e pele escura, cabelos levemente lisos e traços únicos. Além disso, todos falam português. É evidente, pois é uma história que está sendo transmitida para o Brasil, mas custava colocar um leve sotaque indiano? Por exemplo, nota-se que a pessoa natural da Índia tem dificuldade de pronunciar corretamente os sons da letra "V", assim com os chineses têm dificuldade de pronunciar os sons do "R". O animal sagrado para os indianos, no sotaque hindu, é a "baca" e não "vaca". Muitos dos pedantes, telespectadores de novelas, defendem esse tipo de entretenimento justificando a total verossimilhança dos fatos apresentados com a realidade. Mas parece que não é bem assim, como pôde ser notado com o exemplo supracitado. Existem vários exemplos de mesma qualidade, mas é escusado citá-los aqui.
Não preciso dizer também que essa novela tem a luta de alguém para ficar com o amor da vida, pessoas que fazem tudo por dinheiro, sexo explícito e pseudocidadania. O mais angustiante nisso tudo é saber que ninguém se move para questionar o que está se passando na tela da TV. Ninguém se move para pesquisar a verdadeira face da cultura hindu, pois uma pequena pintura na testa e roupas não-ocidentais não são nada. Ninguém vê a importância da cultura da Índia na mente contemporânea mundial. Ninguém procura saber dos grandes indianos, nem como vive o povo de lá atualmente.
Pois dessa maneira, mais uma novela acabará, e outra entrará, e o círculo vicioso continuará sendo a base de visão de um povo que se diz com o brado retumbante, sem ao menos saber o que significam essas duas palavras. O que pode ser feito? Aniquilar as novelas? Não só! Também buscar novas e confiáveis fontes de informação e distração. Fontes essas que poderão servir de alguma coisa para si próprio e principalmente para o próximo. Que não tenham que mostrar a "supremacia branca" de forma tão natural. Que não tratem o indígena como ser de outro mundo. Que não pensem que os deficientes precisam da ajuda dos "normais". Que mostrem uma forma mais sensata e supostamente mais eficaz de mudar esse mundo que tanto reclamam. Et cetera.
E o caminho da ignorância em massa continua sendo trilhado…

sábado, 10 de janeiro de 2009

"Eu Sou Brasileiro e Não Desisto Nunca"

Quem foi o idiota que disseminou essa frase? Se já não bastasse serem malditos zumbis insones que não reclamam de nada, que se deixam ser roubados, que não exigem seus direitos. Agora (há algum tempo!) estão querendo que esses seres batam no peito e sejam o que são com orgulho? Isso deve ser algum plano de uma grande empresa que está tentando atrofiar ainda mais o cérebro do brasileiro.
O que diabos é um brasileiro? De uma forma generalizada, o brasileiro é um ser que vive num círculo vicioso. O brasileiro acorda cedo, vai trabalhar, volta pra casa tarde, acorda cedo, vai trabalhar, volta pra casa tarde, acorda cedo… e ganha menos que o necessário para poder viver de forma digna. Ao serem questionados sobre sua posição, eles se lembram da frase supracitada e contra-argumentam: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca! Minha vida vai melhorar, eu sei, basta eu não desistir e trabalhar muito”. Pausa para ficar boquiaberto. […]
É alguém que reclama de uma lei que evita que vidas sejam perdidas, pois os donos de bares estão tendo prejuízos. Rolam notícias e mais notícias sobre a bendita “Lei Seca” e muitas dessas são sobre os donos de bar reclamando dos prejuízos e que essa lei é inconstitucional, blá, blá, blá! Pior ainda é o próprio cidadão comum reclamar da mesma maneira. Já percebi em várias reportagens que as pessoas de um modo geral tomam as dores dos ricos empresários donos de bares e dizem “Não, os coitados [donos de bares] precisam ganhar o pão de cada dia”. Se pelo menos os ricos donos de bares reclamassem que os cidadãos comuns estão na merda… Se pelo menos houvesse uma troca, em que todos protestavam pelos problemas de todos. Mas não! O brasileiro quer dar uma de bonzinho, de hospitaleiro, que vive e não tem a vergonha de ser feliz…
E porque não dizer que é alguém que aceita tudo sem questionar ou duvidar? Pra um brasileiro, se saiu na televisão é verdade. Não importa, a televisão é a mais pura e confiável fonte de informação. O Jornal Nacional então nem se fala! O Fantástico com suas reportagens estúpidas fascinam. Programas e mais programas que falam sobre a vida das celebridades estão poluindo o que já era poluído. Programas evangélicos e católicos da mesma maneira.
A solução? Educação, educação, educação! Agora me arrependo em não ter votado em Cristovam Buarque (não que Lula tenha sido um mau presidente nesse mandato). Mas a solução definitiva parece ser educar nossas crianças e fazê-las pensar sozinhas. Fazê-las entender que uma maldita frase com uma linda canção no fundo não deve persuadi-las. Colocar em suas mentes que não existe apenas uma verdade. Pode haver mais de uma ou nenhuma. Ensiná-las a questionar, inclusive, esse texto. Aliás, proporcioná-las o direito de escrever um texto.
Então, a minha pergunta: quem poderia estar por trás disso? Eu não sei. Só posso responder com um humor desciclopediano. Pode ter sido o Google, a Microsoft, a Globo, a Veja, a Coca-Cola, a Reversão Russa, Chuck Norris, a…

domingo, 4 de janeiro de 2009

Atestado Pedante

Ser pedante, pelo que me parece, é uma característica inata ao ser humano (pelo menos os que conheço). Todo mundo resolveria a crise mundial em poucos dias, ganharia o hexa facilmente, então não serei exceção. É engraçado como todos vivem gritando que os nossos políticos são ladrões e ninguém faz simplesmente nada. Não sabe o que é pedante? Sinta-se à vontade para usar o pai-dos-burros 2.0 (vulgo Google).
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Fabiano "Che"

Apresentação

Essa é a estréia do Atestado Pedante, um blog crítico, reflexivo, instigante e um pouco prolixo. Enfim, todas as qualidades de um bom intelectualóide. Exporemos questões contemporâneas da atualidade, sem base alguma, como todo bom brasileiro. Sem nenhuma ideologia de direita ou esquerda, dispondo apenas de QIs na média e um conhecimento superficialíssimo do mundo. Sejam bem-vindos.
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A direção (legal, sempre quis ser a direção)