domingo, 28 de março de 2010

A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante

—Alôoooo galerinha!!  Está começando mais um Juventude Antenada!! Eu sou Fannie Champignon e hoje teremos aqui em nosso programa a banda pop rock do momento: ALIEN’ados!!
Isso mesmo! O grupo musical que está fazendo a cabeça da moçada! Antes do show, vamos fazer algumas perguntinhas pra esses grandes músicos, boa noite meninos!

—Diga aew, Fannie. Um salve aew pra moçada!

— Pois bem, meninos. Posso dizer com segurança, que vocês representam hoje a nossa galera, a juventude mesmo. E como vocês lidam com isso?

—Haa, isso aew minina. É por que ALIEN’ados  é atitude, é rock na veia, tá ligado? E se os muleque manja isso então agente fica moó feliz, saca?

—Sim, sim! Já que tu falaste em atitude, cê não acha que falta um pouco de vontade, de contestação nos jovens? Toda aquela rebeldia parece ter acabado...

—Que isso!! Agente se liga muito no nosso mundo. Lutamos pela natureza aew, contra as grandes corporações e tals...

—Engraçado você dizer isso usando uma camisa de refrigerante, e esse cinto cafona aí, não é de couro de jacaré?

—Pow, isso não tem nada a ver... E não sei se você viu na revista Moda’s da semana passada, agente fez um protesto contra o cara do senado, aew!

—Não, eu não leio essa revista... Protesto? Refresque minha memória, protestaram contra quem e por quê? Aliás, você sabe qual a função do Senado?

—Pow, aew tá me tirando? O Senado serve para... para...Ah, esses político são tudo uns FDP, saca?

—[suspiros] Bem... Encerramos nossa entrevista por aqui. Meninos, poderiam tocar pra gente? Quer dizer... Pensando bem, é melhor não. E corte essa franja, seu tosco!

—Aew, moó  nada a ver...
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Fabiano Che

quinta-feira, 18 de março de 2010

Verdade, Bondade, Utilidade

Osnir é novo no trabalho. Ele entrou na empresa através de concurso há pouco tempo e sua aceitação pelos veteranos parece meio complicada. Complicada porque seus colegas com mais de 20 anos de casa pensam que Osnir vai roubar seus respectivos empregos.
Enquanto almoçavam, os antigos funcionários conversavam:
— E aquele tal de Osnir, hein? Não fala, é meio caladão — começou alguém.
— Eu nunca ouvi a voz dele — disse outro.
— Dizem que ele se diz um intelectual, por isso não fala com pião como nós — continuou mais um.
— É mesmo? Só porque é concursado ele pensa que pode ignorar a gente?
— Lamentável. Vou começar a ignorá-lo também.
— Um cara desse não merece respeito!
— Vou ver com ele o porquê disso. — finalizou Valdemir.
Osnir não é do tipo que fala muito. Culpa da grande experiência de vida, apesar da pouca idade. Ele sabe que sempre tem a oportunidade de ficar calado. Mantém-se sempre atento, ouvindo, e pouco se ouve da sua voz.
Outro dia, no horário de almoço, Valdemir, seu colega, veio lhe falar:
— Cara, porque você não fala com a gente, hein? Fica aí sentado, só ouvindo…
— Nada não.
— Fiquei sabendo de uma história sua aí, e tal…
— …
— Quer saber?
— Quero sim… Mas depende?
— Depende de quê?
— É verdade essa história aí? Tem certeza de que o que te contaram é verdade?
— Rapaz, sei não, foi o que me contaram… Os caras que estão falando aí.
— Ok, é o tipo de coisa que você gostaria que dissessem de você?
— De jeito maneiro!
— Não mesmo?
— Não mesmo!
— E é realmente necessário passar essa história adiante?
— Como assim?
— Essa história que dizem de mim, ela promoverá ganhos ao mundo ou a alguém? Ela é útil? É útil contar essa história ao mundo?
— Não, cara.
— Então eu não quero saber dessa história. Guarde-a para si mesmo.
— …
— Fique sentado aqui perto de mim só ouvindo…