domingo, 31 de maio de 2009

Lápis Preto Nº 2 em Folhas Amarelas

— Ei, Deus. Posso expor nosso diálogo para que todos vejam?
— Por que acha que não poderia?
— Não sei. As pessoas são loucas. Apedrejar-me-iam na rua gritando “blasfemador”, “hipócrita”, se eu disser que conversei com Deus.
— Mas não é você o cara que sempre se diz que não se ofende com nada?
— Sim, sou.
— Hipócrita!
— Ei, Deus tem senso de humor?
— Eu inventei o senso de humor.
— É verdade… Mas me diga, por que você não fala com as pessoas?
— Eu falo, mas elas não me ouvem.
— E por que estou ouvindo?
— Você é louco, de uma imaginação fértil!
— Hem?
— Calma! É apenas senso de humor divino.
— Posso perguntar coisas?
— Você tudo pode.
— Uh, obrigado. É a primeira vez que ouço isso.
— Pergunte o que quiser.
— Ahhh… O Brasil vai ser hexa em 2010?
— Não seja estúpido!
— Ei, relaxa… Além disso, eu pensava que Deus usava termos mais sofisticados, como o correto emprego dos pronomes oblíquos.
— Por quê? Eu tenho todos os termos do mundo e uso aqueles me fazem ser compreendido mais rapidamente. Um humano certa vez disse: “Faça as coisas o mais simples que você puder, mas não as mais simples.”
— Quem foi o louco que disse isso?
— Ok, chega de papo furado. Cadê suas perguntas?
— Certo. O céu existe?
— Vá lá fora e olhe pra cima. Se houver algo azul lá, sim.
— Não, digo o paraíso!
— Depende.
— De quê? De eu fazer coisas boas ou ruins aqui na Terra?
— O que são coisas boas e ruins?
— Não sei. Todo mundo sabe o que é certo e errado.
— Eu não sei.
— Ah, tá certo. Matar é uma coisa ruim.
— É verdade. Como daquela vez em que o cara matou o bandido que estava apontando uma arma pra cabeça de sua família.
— Bem, essa foi uma situação excepcional.
— Se há situações excepcionais, então não existe de forma absoluta. E se não existe de forma absoluta, então não pode ser classificado como bom ou ruim.
— Então coisas boas e ruins não existem.
— Você ouviu alguma palavra do que acabei de dizer, filho?
— Desculpe, me distraí com aquele esquilo ali.
— He, he! Boa.
— O que tens a dizer sobre o paradoxal fato de existir um homem invisível que mora no céu, que vigia tudo que as pessoas fazem, todos os minutos de seus dias. Onde esse homem invisível tem uma lista especial de dez coisas que ele não quer que façamos. E se fizermos qualquer uma dessas dez coisas, ele tem um lugar especial cheio de fogo e brasa ardendo, e tortura e sofrimento, para o qual vai nos mandar viver e sofrer e arder e sufocar e gritar e chorar, para todo o sempre, até o fim da eternidade… mas que me ama?
— Quem é esse homem invisível? Admito que não o conheço.
— É você, Deus!
— Eu??? Eu não faço nada disso. Eu te amo, certo, mas não sou invisível.
— Ah, não? Então cadê você?
— Estou em todos os lugares. Sou esse monitor LCD, esse travesseiro que você coloca na cadeira pra suas costas não doerem, sou essas bonequinhas hentai que estão sobre a escrivaninha.
— Shhh… Já entendi.
— Sem contar que um de meus filhos mais sábios cantou: “Eu sou a luz das estrelas/Eu sou a cor do luar/Eu sou as coisas da vida/Eu sou o medo de amar…”
— Ele também conversou com Deus?
— Sim, e logo depois ficou conhecido como “O Maluco Beleza”. Talvez você deva pensar num adjetivo que defina a loucura da qual as pessoas acusar-te-ão depois dessa postagem. Existe na sua cidade “O Maluco do Veneno”. Seja “O Maluco do Ácido”, então. Mentes brilhantes saberão o porquê.
— Muito corrosivo esse nome.
— Druuum, bassss!
— Ha, ha, ha!
— E que lista? Como em “My Name Is Earl?”?
— São chamados os dez mandamentos.
— Não escrevi nada parecido. Vi algo aqui no Google e diz coisas como não matarás e não cobiçar a mulher do próximo… Que absurdo. Seria contraditório de minha parte ditar regras depois de ter feito correr o rumor de que as pessoas têm livre-arbítrio.
— Demasiadamente. E existe o inferno, ou esse lugar cheio de fogo, blá, blá, blá?!
— Você quer que exista?
— Não.
— Então não existirá!
— Basta querer?
— Sim. Se você realmente acha que existe esse lugar e pensa que vai parar lá quando morrer, então você vai.
— Não me parece muito lógico.
— A eletricidade também não parece ter muita lógica, mas existe.
— E se eu pensar que vou a um lugar onde chove cerveja e bolinhos, onde passa coisas realmente úteis na televisão e onde é possível navegar no Internet Explorer sem se irritar, quando eu morrer, assim será feito?
— Não me parece um mundo muito… interessante… mas a resposta é sim.
— Não me julgue.
— Eu não julgo… Apenas observo.
— Então porque julgaste?
— Tentei imitar um humano. Vocês julgam demais.
— Eu, não!
— Você também!!! Com menos intensidade, certamente, mas ainda julga.
— Tenho milhões de outras perguntas pra fazer… Nem sei por onde começar.
— Ei, esse texto está ficando muito grande, não acha? Apenas três pessoas o lerão completamente e você vai suspirar de desgosto, esboçando uma infelicidade.
— Então posso escrever um livro onde mostro meu diálogo com Deus?
— Poder você pode. Você pode tudo, aliás. Mas saiba que já fizeram isso. Sugiro continuar apenas no blog.
— Ok, você quem manda.
— É, eu sei.
— Então, falou!
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Giuliano Marley

domingo, 24 de maio de 2009

Papo furado

As pessoas têm o hábito de comprar verdades prontas e enlatadas, fugindo de qualquer reflexão. Por exemplo, se eu te perguntasse se há um céu para onde se ir, você provavelmente diria:
— Claro, que pergunta! — eu, olhando fixamente em seus olhos, replicaria:
— Como você sabe?
— Está escrito, ora bolas!— cruzando os braços, eu talvez dissesse:
— Então se eu escrevesse em um pedaço de papel "Pule da ponte", você pularia da ponte?
— Claro que não, seu bobo. Deus disse que há um céu para onde se ir!— eu, curioso, perguntaria:
— Como você sabe que Deus disse isso? Alguém simplesmente pode ter escrito isso e dito que foi Deus. Não estou dizendo que Ele não disse isso, mas que existe a possibilidade de não ter sido Ele.
— É preciso ter fé — você diria, visivelmente aborrecida(o).
— Com a fé não tem como argumentar. Passemos então pro próximo ponto.
— Como assim próximo? — eu, arqueando os sobrolhos, diria:
— Se há um céu para onde se ir, e nem todos vão para esse céu, há então uma espécie de julgamento entre certo e errado, certo?
— Ahn… Sim.
— Eu lhe pergunto, por que Deus daria ordens que ele veria que não seriam cumpridas? Além disso, julgar me parece uma coisa totalmente humana e imperfeita.
— Como assim "não seriam cumpridas"? Se as pessoas não cumprissem suas ordens, o mundo estaria um caos e ninguém iria para o céu — Eu te daria um olhar triunfante e diria:
— Eu queria chegar até esse ponto. Então o Deus do Amor controla seu rebanho através do Temor?
— Não… Não sei. Você tá me dizendo que não existe Deus ou que Ele é um tirano?
— Não, estou te dizendo que essa é a imagem que passam dele — você, com uma cara meio estranha diria:
— Então você acha que devemos só pensar em nós mesmos e não nos preocupar com o futuro, pois não existe céu?— eu, tentando pensar em algo, responderia:
— Eu não disse isso, eu só acho que… — você me interromperia:
— Nesse caso, posso fazer tudo que eu sempre quis, mas achava que Deus iria me castigar! Obrigado, você abriu meus olhos. Nada de respeitar o próximo ou baboseiras desse tipo! — eu, estupefato, tentaria inutilmente contra-argumentar:
— Tu é doid'eh? Eu não falei nada disso!— mas você não me daria ouvidos e iria embora.
P.S.: Eu acredito em Deus.
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Fabiano Che

sábado, 23 de maio de 2009

“Quis custodiet ipsos custodes?”

Das sátiras de Juvenal, essa expressão traduzida do latim significa “Quem guardará os guardiões?”.
Há dezenas de situações aplicáveis para essa frase, mas demos atenção à nossa polícia. Se essa corporação age como guardiã da sociedade, então quem irá vigiá-los para ter certeza de que não são perigosos? A Justiça? A população? Hum! Creio que não. Esqueceu-se que estamos no Brasil?
Diabo! Estávamos um colega e eu passando pelas ruas da minha cidade e comentando sobre a estupidez dos motoristas desse lugar, que estacionam embaixo dos semáforos e burlam outras leis de trânsitos, quando, no semáforo seguinte, nos deparamos com dois policias com motos, ambos parados sob a sinaleira e sob uma placa bem grande com uma letra “E” gravada e sobposta a duas faixas entrecruzadas (proibido parar e estacionar). E não estavam numa ocorrência, não! Pararam pra olhar as novidades da barraca de CD pirata de Damião.
Não contei ainda a vez que fui a não importa onde de ônibus e houve uma pequena discussão entre os PMs que ali estavam e o motorista. Parece que, por Lei, até duas pessoas em situações especiais podem viajar de graça nos ônibus de quaisquer empresas, onde “especiais” entende-se policiais, oficiais de justiça e todo esse adubo. Só que três policias estavam no veículo, todos sem bilhete, nenhum com a farda (que é uma exigência para consumar a sua distinção). Queriam porque queriam continuar a viagem gratuitamente, mesmo alegando terem ciência das regras. Diziam também que sempre viajaram daquela maneira. Oh, God! Giuliano Marley e sua habilidade contra-argumentativa redargüiria de forma que, supostamente, os faria entender que só porque sempre erraram, não quer dizer que podem errar sempre. A minha vontade de falar muitas verdades pros custodes foi intensa, entretanto coldres nas cintas me fariam levar chumbo quente nos cornos.
A decisão do motorista em não continuar com a viagem naquela situação foi soberana, e ficamos todos parados ali até perceberem o quão inflexível era o chofer. Finalmente um deles cedeu e comprou a passagem.
Que sejam pederastas passivos os policiais do Brasil, que espancam homens e mulheres, idosos e crianças, qualquer um, todos já dominados e com as mãos na cabeça. Que reúnem um batalhão de soldados quando há alguma baixa, mas nem se movem quando um maldito cidadão sofre alguma brutalidade. Que pedem identidade pra depois me bater.
Essa não me parece uma atividade exclusiva aqui do fim do mundo. Se a caixa não estiver mentindo mais uma vez, como sempre faz, então digo que isso acontece em todos os lugares do País, inclusive onde a fiscalização… exis… existe (wow, quase não sai). Eles apenas olham a nuança de tua tez e decidem instintivamente se te batem ou se te batem muito.
P.S.: é comum jogarem álcool no árabe por causa de suas críticas ácidas. Porém… não risque o fósforo ainda, pois não falo de todos… apenas de quase todos.

sábado, 16 de maio de 2009

O bom e velho "Se"

SE Ernesto tivesse virado à esquerda como faz todos os dias, possivelmente teria parado em frente à vitrine de uma loja para admirar uma jaqueta que estava em destaque. Ele provavelmente se atrasaria para o trabalho, pegaria um atalho e veria um assaltante roubando uma velhinha. Ele viria ajudá-la, o que afugentaria o meliante. A senhora agradeceria e prometeria tomar mais cuidado. Ernesto teria uma boa desculpa pelo atraso e talvez resolvesse aproveitar o resto da manhã, vendo um bom filme no cinema.
SE ele decidisse se sentar na terceira fila e notasse que perdeu as chaves, ao se levantar para procurá-las esbarraria em uma linda moça que, embora nunca a tivesse visto, sentiria uma nostalgia inexplicável. Ele a convidaria para assistirem ao filme juntos, e a garota, apesar de receosa, diria sim. SE depois do cinema Ernesto a convidasse para comer algo, a moça aceitaria seu convite. Ele talvez elogiaria os lindos cabelos ruivos da garota que, sem jeito, daria um belo sorriso. Os dois provavelmente se apaixonariam um pelo outro e talvez se perguntariam como viviam antes de se conhecerem.
SE Ernesto tivesse virado à esquerda, aquele teria sido um grande dia, pois quando chegasse ao trabalho e explicasse a situação ao chefe, este ficaria estupefato por que a senhora que ele salvaria mais cedo era sua mãe. O patrão de Ernesto, agradecido, lhe daria uma boa recompensa em dinheiro e uma promoção no seu emprego. Talvez com o dinheiro do prêmio Ernesto poderia pagar a operação do seu pequeno e enfermo irmão.
SE Ernesto tivesse virado à esquerda naquele dia, se atrasaria para o trabalho, salvaria uma pessoa, conheceria o "amor de sua vida" e seria promovido. Mas Ernesto, justamente nesse dia, achou melhor pegar um caminho diferente para sair da rotina, e virou à direita.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Escravocracia Esconsa

…como eu estava dizendo, o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravatura. Digo, foi o último país ocidental independente a acabar com a escravidão. Aliás, ainda não abolimos! Hoje eu posso ter meu próprio escravo. De qualquer etnia, religião, gênero… Desde que tenha mais de 18 anos e uma carteira de trabalho. Posso fazer com que ele trabalhe de domingo a domingo e pagar-lhe-ei, dentro da Lei, o suficiente para que ele mal sobreviva.
Há exatos 121 anos correu o rumor de que o regime de escravidão tinha sido banido do Brasil. “Uma linda princesa teria salvado milhares de pessoas de suas situações aflitivas com apenas uma assinatura. Ela, que acabou por declarar posse do cognome ‘A Redentora’, era uma pessoa muito boa, por isso defendeu os africanos e seus descendentes que estavam sendo escravizados no Novo Mundo.” Pelo menos é essa a historinha que nos contaram no primário.
Porém aquela nossa professora de História mal paga do ensino médio contradiz essa versão dos fatos e nos avisou (antes de ser raptada por homens de preto) que as coisas foram bem diferentes. Eu não estava lá pra confirmar, mas diz-se que “Abolição, abolição” era o coro da nação. O populacho cairia de pau sobre a filha de D. Pedro II se essa não assinasse a lei que extinguiria a escravidão no Brasil. Ou seja, não havia generosidade alguma, apenas medo de decapitações e outros interesses capitalistas que não vale a pena mencionar nesse texto. "A Lei Áurea deu liberdades aos negros e mulatos, mas não lhes garantiu alguns direitos fundamentais, como acesso à terra e à moradia, que os permitissem exercer uma cidadania de fato"¹. Apesar de tudo, não nos atentemos aos afro-descendentes aqui, apenas aos trabalhadores brasileiros de uma maneira geral.
É claro que há aqueles que trabalham de segunda a sexta, das 8 às 12 e 14 às 18 (talvez menos), sim, sentados em frente a um computador, numa sala com ar-condicionado! Entretanto, encaremos os fatos. A grande maioria dos trabalhadores tem um expediente exorbitante. Entram às 7 e só saem às 19 horas, de segunda a sábado (ou domingo). Acordam às 6 (ou antes) e chegam em casa às 20 horas (ou depois). Tudo isso num desgaste físico, psicológico e emocional incomensuráveis. Quando chega ao fim do mês, ganha um salário insignificante. Salário esse que se evapora num único dia. O quê? Achas tu que estou sendo hiperbólico? Não! Meu bloquinho de experiência de vida está cheio de anotações, pois já vivi (ainda vivo, agora com menos intensidade) dessa maneira.
Quando eu trabalhava não importa onde, chegava a ficar mais de 36 horas sem poder ir pra casa, e quando finalmente deitava na minha cama, teria 12 horas pra me recompor e voltar pra senzala, não importando se era domingo ou feriado. Depois as coisas melhoraram. Eu entrava às 7 horas, tinha 90 minutos de almoço, voltava e saía às 19h30. Sabe quando eu vivia? Nunca. Não, nunca não é muito tempo. Eu caía na cama (ploft!) e o despertador vomitava um som lancinante indicando que hoje, quarta-feira, já seria amanhã, segunda-feira. Minha vida passava, simplesmente. Eu nem via a cor do tempo. Recebia um maldito dinheiro que não dava pra gastar. Como eu iria à loja de roupas se essa estaria fechada nos meus minutos de folga à noite?
O Ministério do Trabalho poderia me ajudar? Sim, ele poderia. Ele poderia, sim! […] Enfatizemos o futuro do pretérito e relembremos que estamos no Brasil.
E ninguém, não faz nada? Não, pois ninguém está trabalhando agora. Ninguém deve estar sendo açoitado por palavras estressadas de um gordo leitão capitalista, tendo toda a culpa sendo colocada sobre seu dorso.
Soluções? Não me atrevo a propor soluções aqui (— Você dá muita lição de moral, Giuliano). Só o que sei e queria que você soubesse (se é que já não sabe ou que não tinha percebido ainda) é que hoje não passa de mais uma data sem um fundamento de bases sólidas. Assinaram o fim da escravidão no dia 13 de maio, mas a escravidão ainda existe por aqui.

domingo, 10 de maio de 2009

Presente do Dia das Mães

O que você deu de presente pra sua mãe hoje? NÃO, NÃO! NÃO ME CONTE! Não quero saber, pois, pelo menos pra mim, tanto faz… […] Espero que não seja um sofá ou um liquidificador… Ei, calma, tanto faz mesmo. Mas saiba que seria estúpido da sua parte dar esse tipo de presente (apesar de eu acreditar que as pessoas fazem o que quiserem com suas próprias vidas, inclusive dar qualquer presente). Mas… é que…
Bem, hoje é o chamado “Dia das Mães”. Dia em que finalmente damos um presente pra elas. Uns dizem que não dão presentes no dia de hoje, pois presentes têm que ser dados o ano inteiro, não numa data predeterminada; outros dizem que mãe é tudo e que merece todos os presentes do mundo. Então, cada um faz o que quiser. Eu acho interessante a idéia de tirar um dia desse calendário falível para homenageá-las. E quanto aos presentes, bem…
A idéia de mãe está tão estereotipada graças à geração machista antecedente (por que não dizer atual?). A imagem que se tem de mãe é aquela que acorda antes que você pra fazer seu café, que está lhe esperando pro almoço com a comida prontinha, que limpa a casa, ou seja, uma empregada doméstica que não é remunerada. A maioria das mulheres da última geração que se tornaram mães virou, conseqüentemente, donas-de-casa. Há uma visão inconsciente de que mãe não é mulher. Talvez por isso tapetes, fogões e jarras de suco sejam os presentes mais dados.
Se você deu esse tipo de presente, não sei, mas diria que és um fraco que deixa ser bombardeado pelas propagandas que atacam de todos os lados. Já reparou como as lojas de móveis e de itens domésticos anunciam tanto nesse época do ano? Dizem que fará sua mãe realmente feliz comprando a linda e magnífica TV de 42" usada por todos. São capitalistas? Sim, também, mas são, principalmente, aproveitadores, pois usam essas idéias preconcebidas conforme suas necessidades.
O que você acha que sua mãe vai fazer com aquela geladeira nova, com aquela mesa de mármore, com aquele conjunto de panelas, que você deu? Trabalhar mais… e gratuitamente… pra você. Oh, good for you, mas não pra ela que o carregou 9 meses na barriga, que teve todos os seus hormônios modificados, ficou com pés inchados, constipação, dores nas costas, mudou o humor, que ficou horas em trabalho de parto com um médico “medindo” o tempo todo, ou que passou por uma cirurgia, teve 7 camadas de seu corpo cortadas, foi costurada e, mesmo com todos os pontos, acordava de 3 em 3 horas, durante meses, para dar à sua pessoa o que comer e que recebeu mordidas no bico do seio enquanto fazia isso. Uma pessoa que trocou fraldas e ainda se preocupava em analisar o cocô. E é a pessoa que a gente sempre chama quando acontece alguma coisa. Sim, porque quantos que vocês conhecem acordam no meio da noite e gritam "PAI!"?.
Pense nisso. Talvez ela diga que amou o presente, mas no fundo está frustrada. Ela estava querendo aquele vestido azul ou aquele CD do Roberto Carlos. Sim, talvez ela tenha dinheiro pra comprar essas coisas, mas não teve a satisfação de recebê-lo no dia em que disseram que seria o dia dela. Você não quer ver sua mãe privada da satisfação dum desejo ou duma necessidade, quer?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dividir para conquistar

Meu Deus, um emo!! Adoro emos!!
― Não suporto emos. Aposto que são todos boiolas!
― Comunista!!
Herege!!!
― Ateu!
Estamos sempre julgando e tachando as pessoas: velho, rico, burro, feio, esperto, malandro, inteligente… Parece que temos uma necessidade de classificar todos para entender o outro. Ao dizer que certa pessoa é estúpida, você a limita a apenas um conjunto de "ações de pessoas estúpidas", ou seja, um personagem e não um ser humano.
A humanidade se divide mais e mais, tornando-se cada vez mais distante de si mesma. Política, religião, futebol, sexo e música que, teoricamente, deveriam Nos unir, Nos separa e Nos coloca uns contra os outros, pois como não Nos enxergamos no outro, Nos vimos como espécies diferentes e rivais de uma disputa imaginária. E o engraçado é que quando se entra em contato com alguém diferente, percebe-se os mesmos medos, inseguranças e indecisões que você. A patricinha e o metaleiro também sofrem, sorriem e sangram igual ao pagodeiro e o nerd. Então pra quê esse abismo entre todos? Se respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água e lemos o mesmo blog, por que raios espancamos, queimamos, matamos e ferimos a nós mesmos?
(Ativar Modo Piegas) Criamos paredes invisíveis para nos proteger do frio, sem dar conta de que… Melhor parar por aqui antes que alguém chore.
Namasté