sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mais perto do Céu

Hey, doc.

Mas que diabos! O diabo! Eu espero ansiosamente pra conversar com Deus e é você que aparece... De novo.

Que isso, man. Todo mundo sabe que comunistas são ateus.

Então... Veio me tentar a observar a vizinha tomando banho? Já disse que não vou fazer isso de nov... Quer dizer...

Nada disso. Hoje vim lhe contar uma história. Por favor, sem interrupções. Cale-se e escute: Era uma vez em um país muito distante, vivia um jovem cantor de uma banda de black metal, seu nome era Steven.
Steven era talentoso, mas também era muito tímido, e como timidez não é uma característica que combina com o mundo do rock, não conseguia empolgar o público com sua performance inibida.
Em uma ensolarada tarde de sábado, quando Steven chegou a garagem, que eles chamavam de “estúdio”, descobriu que havia sido substituído. Colocaram outro pra cantar em sua banda. Aquilo acabou com ele. Cantar era sua vida, entoar cânticos supostamente satânicos era sua razão de viver.
Steven saiu correndo, chorando feito um cantor de rock frustrado. Foi em busca da única outra coisa que o fazia sentir vivo, ligado, moó legal. Mulheres? Álcool? Drogas? Nada disso. Literatura gótica.
Horace Walpole e Edgar Allan Poe eram a paixão de Steven. Enquanto procurava O Castelo de Otranto em uma prateleira imunda e velha de uma biblioteca ainda mais imunda,
Steven viu o livro que mudaria pra sempre sua vida: 7 Passos simples para vender sua alma, por Giulione Marloy.
O livro prometia que em troca de sua alma, poderia se realizar todos seus desejos. Havia umas letrinhas miúdas na última página sobre algo como sofrimento eterno, mas Steven não reparou.
E foi assim que em uma primaveril meia noite em um aconchegante cemitério, Steven realizou o “feitiço”, que não era tão simples assim, (onde arranjar sangue de bode?) e vendeu sua alma para o Diabo, vulgo eu. Seu desejo era ser uma estrela do rock!!
Desse dia em diante, Steven começou a cantar em barzinhos, a timidez tinha ido embora, e rapidamente começou a fazer sucesso. Suas canções sobre o abate de filhas e guerra de porcos emocionavam as pessoas.
Ganhou prêmios, fez turnês internacionais, ou seja, seu sonho finalmente havia se concretizado. Em seu jatinho particular, a alguns mil pés de altura, pensava em como sua vida mudara desde o pacto. Steven percebera que sua voz não tinha mudado, mas que ganhara uma grande confiança em si mesmo, como se o pacto fosse o empurrão que ele precisava para buscar seus objetivos.
E no exato momento que seu avião sobrevoava o Vaticano, Steven entendeu tudo! Não foi o pacto que lhe dera forças para vencer a timidez! Foi sua própria vontade! Aquilo surgiu de dentro pra fora e não o contrário! Foi aí que ele deu a maior gargalhada de sua vida! Pacto? Demônio? Como tinha sido tolo! Então começou a cantar. Compôs uma lindíssima canção, você precisava ouvi-la!


Que bela história! E o que aconteceu depois? Ele continuou com sua vida de felicidade e sucesso?

Na verdade não. Enquanto Steven cantava, o piloto perdeu o controle e o avião caiu no mar, e todos morreram com o impacto...

Que tipo de história é essa? Cadê a moral? Você é sádico por acaso?

Ahn... Sim. Eu sou o diabo, lembra?

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Fabiano Che

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Acumulou!

— Lá em Pato Branco tem uma senhora de nome Joanete Consuelo que apostava todo dia na mega-sena. O marido dela que dava o dinheiro.
— E daí?
— Daí um dia ela parou de apostar e foi guardando todo dia o dinheiro da aposta num cofrinho daí.
— E o que aconteceu?
— Ela nunca ganhou na mega-sena.
— Quem quer saber disso, polaca? Some daqui! Que história mais sem sentido.
— Claro, porque não terminei.
— Ai, ai, ai.
— Daí, depois de muitos anos ela ficou rica.
— Mas você não disse que ela não ganhou na mega-sena?
— O cofrinho tava cheio de notas de dois reais.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Brilho Eterno de Uma Mente com Esperança

Cada dia da vida de Daniel foi patético. Agora que terminou o Ensino Médio, o que fazer? Não há perspectivas, parece que tudo continuará tão estúpido como sempre foi. Só o que ele tem é talento, mas nenhuma oportunidade; capacidade e disposição, mas nenhum apoio.
Daniel tem a intenção de mudar a sua realidade. Ele quer. Ele aspira. Ele deseja mais do que tudo. Mas como!? O que fazer!?
A sirene do colégio toca estridente fora da sala de aula, anunciando de modo oficial que acabou o ano letivo. Todos os alunos saem correndo, gritando e entoando rugidos de alegria, menos Daniel, que prefere se conter. Ele não é um cara tímido, apenas não tem nada pra comemorar.
Caminha em direção à porta, agarrado à sua mochila, mas antes de poder sair é convocado pelo professor de física que ainda estava em sua mesa. Seu nome é Sebastião, um qüinquagenário que leciona há tempos, taxado de excêntrico por seus colegas.
— Daniel, venha cá.
— Sim?
— Posso compartilhar um segredo com você? Saiba que o considero, Daniel, o melhor aluno que já tive. Nunca nenhum aluno meu se saiu tão bem nessa disciplina.
— É, talvez.
— Por conta disso, quero que você saiba de umas teorias minhas, coisas que gostaria muito que você pusesse em prática, confirmando tudo que especulei até hoje como físico. Posso confiar em você?
— Porque não!? Manda.
Sebastião se abaixou e pegou um minúsculo grão de areia do piso da sala de aula, sujeira, depois o dirigiu para a vista de Daniel.
— Como você sabe, este grãozinho de areia tem uma massa. Extremamente pequena, mas ainda assim uma massa.
Daniel concordou sem dizer nada.
— E por este grão de areia ter uma massa, ele exerce uma força de gravidade. Ela também é pequena demais para ser sentida, mas existe.
— Certamente.
— Então — disse o professor —, se pegarmos trilhões de grãos de areia como este e deixarmos que atraiam uns aos outros para formar, por exemplo, a lua, a força de gravidade combinada deles será suficiente para mover oceanos inteiros e fazer subir e descer as marés por todo o nosso planeta.
Daniel não sabia onde Sebastião pretendia chegar, mas o que ouvia parecia interessante.
— Então vamos elaborar uma hipótese — falou o velho enquanto se desfazia do grão de areia. — E se eu dissesse a você que um pensamento, qualquer idéia minúscula que se forme na sua mente, possui uma massa? E se eu lhe dissesse que um pensamento é uma coisa de verdade, uma entidade mensurável, com uma massa mensurável? Minúscula, é claro, mas ainda assim uma massa. Quais seriam as implicações disso?
— Hipoteticamente falando, professor? Bem, as implicações óbvias seriam: se um pensamento tem massa, então ele exerce uma força de gravidade e pode atrair coisas para si.
Sebastião sorriu.
— Você é bom, cara. Agora avance mais um passo. O que acontece se muitas pessoas começam a se concentrar no mesmo pensamento? Ou melhor, e se você começa a se concentrar nesse mesmo pensamento por muito tempo? Todas as ocorrências desse mesmo pensamento passam a se consolidar em uma só, e a massa acumulada dele começa a aumentar. Portanto, sua gravidade aumenta.
— A valer.
— Quer dizer que… se um número suficiente de pessoas começarem a pensar a mesma coisa, ou se você começar a pensar a mesma coisa, positiva ou negativa, então a força gravitacional dessa idéia se torna tangível e exerce uma força de verdade. — O professor meneou a cabeça esperando confirmação. – E ela pode ter um efeito mensurável no nosso mundo físico.
Isso foi há 5 anos atrás. A partir daquele momento, Daniel passou a acreditar naquilo fielmente. Ele começou a pensar em tudo que desejava. Começou a imaginar sua vida repleta de abundância e felicidade. Todas as noites, deitado em sua cama antes de pegar no sono, ele inventava um mundo maravilhoso.
Sonhava acordado com aquele emprego bem remunerado, naquela cidade culturalmente rica, com aquela garota perfeita…
Passaram-se dois anos desde sua conversa com o professor quando, fazendo o que quase nunca fazia - assistir a televisão - que ele viu uma oportunidade. Um concurso público. Finalmente seus sonhos realizar-se-iam? Talvez. Fez o concurso e passou! Ganhou dinheiro, não muito, mas o suficiente pra poder passear pelas cidades vizinhas e conhecer gente.
Uma dessas pessoas que conheceu foi Moisés, o cara da mineradora. Ele era um concurseiro, vivia disso, sempre tentando a “sorte”. Foi ele que indicou aquele concurso muito longe para Daniel. Parecia bem remunerado, mas era pra cadastro de reservas. Mais confiante do que nunca, ele prestou o concurso, passou e se encheu de alegria. Finalmente!
Ainda não. Toda aquela vida que ele sempre quis deveria se adequar a ele - ou seria o contrário? Daniel viveu por mais dois anos na expectativa de ser chamado para trabalhar, mas ainda não estava pronto. Não se continha de ansiedade, mas mesmo assim sempre manteve o foco, sempre pensando naquilo que queria.
O tempo transcorrido depois de passar no concurso foi decisivo para a mudança na vida de Daniel. Nesses dois anos ele pôde aprender a se relacionar melhor com as pessoas, a tratá-las de maneira mais gentil, a ignorar aqueles que o queria vê-lo destruído… Daniel pôde se desligar da sua vida adolescente e começou a encarar o mundo como um homem, com suas responsabilidades e independência.
Esses dois anos foram decisivos para seu êxito, pois sem essa bagagem, tudo seria em vão. Ele alcançaria suas aspirações, mas supostamente não conseguiria mantê-las, acabaria tendo o efeito contrário. Ele não se daria bem com os colegas de trabalho, não se adaptaria à cidade, nem sequer conheceria ela…
Quando menos esperava, quando sua mala de experiência de vida estava suficientemente cheia, Daniel é convocado. Felicidades!
Seria hora de ser cauteloso, não deveria se exaltar. Mantenha o foco.
Ele mudou de cidade, começou a trabalhar e, devagarzinho, quase tão devagar quanto foi todo esse processo, começou a ter seus pedidos realizados.
Hoje Daniel é adorado por todos os seus colegas de trabalho. Seus superiores o adoram também, pois ele é um cara que sabe trabalhar e tem um compromisso com a empresa. Tem idéias inovadoras e participa de tudo que lhe é oferecido. Está prestes a receber uma promoção.
Adaptou-se perfeitamente à cidade. Conhece quase todos os lugares e venera a segurança e organização do lugar. Seus habitantes são educados e cultos.
Daniel finalmente pôde se encontrar com Amanda, a caucasiana baixinha de seus sonhos. Aquela ciumenta de cabelos negros. A mesma que sempre sonhou com um cara como Daniel.
Então, mesmo depois de tanto tempo, depois de tanta adversidade, Daniel está conseguindo tudo aquilo que sempre quis, tudo aquilo que desejou com força. Simples assim? Não, ele correu atrás, ele lutou, batalhou, se privou, viu-se indiferente a problemas… venceu! Além disso, ele sabia o que queria, sentia-se e se comportava como se as coisas estivessem a caminho, esteve aberto para recebê-las.
Ainda há infortúnios, mas isso Daniel sabe que faz parte. Ele sabe que a verdadeira felicidade é construída tijolo a tijolo, com o sol na cara, com chuva na cabeça, com problemas que transcendem o seu domínio.
Daniel conseguiu. Daniel está conseguindo. Consiga!