sábado, 24 de outubro de 2009

Contatos imediatos do 3º grau

Uma criança de uns 5 anos pergunta pra sua mãe:
— Mamãe, posso trazer um amiguinho para brincar comigo aqui em casa?— A mãe responde, um pouco desinteressada:
— Claro, meu bem. É um amiguinho da escola?
— Não.
— É do condomínio? Não? De onde ele é então?
— Quando eu estava brincando no playground, a bola caiu na rua, aí um menino pegou e jogou pelo muro pra mim. Eu chamei o menino pra jogar comigo aí ele disse que não iam deixar ele entrar.
— Quem é esse menino, como ele é? E quantos anos ele tem?
— Acho que da minha idade. Ele tava com umas roupas sujas e velhas. A empregada dele deve tá doente, né mamãe? Igual aqui daquela vez.
— Deve ser um desses vagabundos que ficam na rua. Não quero você se metendo com essa gente! Entendeu?
— Por que, mamãe? Ele é mau? Quando ele pegou a bola, os outros meninos falaram pra ele sair correndo. Só que ele disse que a mãe dele falou pra ele que pegar uma coisa que não é sua é errado.
— Ele disse isso? Mesmo assim. Você tem que entender que nós somos pessoas de outro nível. Não podemos nos meter com esse tipo de gente?
— Tipo de gente? Ele não é gente igual nós?
— Claro que não. Sim...Quer dizer... Você é muito novo pra entender essas coisas!
— Devo ser mesmo. Gente que parece igual mas não é igual.
( Ou gente que não parece igual mas é igual)
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Fabiano Che

domingo, 18 de outubro de 2009

A felicidade está no caminho

— Oi, Deus, você está aí?
— Claro, sempre.
— Então me diga, o que é a felicidade, afinal?
— Seja mais específico.
— Sabe, estou quase sempre insatisfeito. Mesmo conseguindo as coisas que desejo ainda não consigo me declarar feliz… Verdadeiramente feliz.
— Siga-me.
— Aonde vamos?
— Vou te mostrar a felicidade.
Após três quartos de hora caminhando, ambos chegam ao cume de uma montanha.
— Falta muito?
— Chegamos!
— Sério? Mas cadê a felicidade que disseste que me mostraria?
— Está sob seus pés.
— O quê? Essa flor amarela?! Ela me dá algum tipo de poder ou algo assim?!
— Não, do lado da flor.
— Ahhh… O que há do lado da flor?!
— Essa pedra.
— Essa pedra?! Ela é que vai me fazer ter lasers pelos olhos?
— Por favor, chega de falar bobagem! Essa pedra é a felicidade que te prometi mostrar.
— O quê? Mas o que tem de especial nessa maldita pedra?
— Nada! É apenas uma pedra como qualquer outra.
— Caralho! Nós andamos por mais de 45 minutos, subindo essa porcaria de montanha, furei meu pé num espinho, com uma forte dor no nervo ciático, num sol quente da porra pra olhar uma pedra como outra qualquer?
— Sim.
— Sim? Mas que frieza…
— O que você esperava?
— A verdadeira felicidade.
— Ah, tá, mas o que você viu pelo caminho?
— Bem, vi pássaros gorjeando canções serenas, lindas e perfumadas flores, a água da cachoeira sendo derramada, formando uma chuva fina, o nascer do sol reverberando nossos corpos — ou pelo menos o meu —, e muita coisa maravilhosa, sabe!? Caminhei com tanta ansiedade para ver o que era a felicidade.
— E o que você sentiu enquanto subia e via tudo isso?
— Sentia-me…
— …enquanto ansioso para ver a felicidade…
— Sentia-me muito bem.
— Muito bem quanto e como.
— Verdadeiramente bem… e feliz.
— …
— Porra, então é isso!? Agora eu entendi. A felicidade verdadeira está no meio e não no fim, não é isso? A felicidade verdadeira está no caminho, no trajeto rumo ao meu objetivo. O objetivo final não passa de uma simples pedra no cume de uma montanha, pois a verdadeira felicidade está em chegar lá, passar por todas as situações, todas as sensações — boas ou ruins.
— Sabia que você entenderia.
— Claro que sabia, mas… Como aplicar isso em termos práticos?
— Sonhe! Sonhe sempre. Nunca deixe de sonhar nem deixe de aspirar a alguma coisa. Sempre queira alcançar seus objetivos e, quando alcançá-los, busque outros, pois enquanto estiver caminhando, sentirá sempre a verdadeira felicidade.
— Porra, então… Agora vejo como eu era feliz enquanto passava pelas etapas que me levou aonde estou. Agora que cheguei onde há tempos queria chegar, tudo parece tão banal... apesar de eu me sentir apenas feliz. Preciso de novos objetivos, certo? Não posso ficar estagnado. Quero sentir a verdadeira felicidade de novo. Deixe-me ver, qual o meu objetivo agora? Tentar fazer com que as pessoas absorvam um pouco do que pude constatar com minha experiência sensível!?
— Não, você nunca encontraria a pedra, e ficar andando sem nunca chegar ao cume te faria infeliz.
— Já sei! Vou continuar a escrever meu livro e publicá-lo. A emoção de ver o desenrolar da história com Glauber — ou Ivo — e Andréia me faria verdadeiramente feliz. Pode até ser que eu me sinta decepcionado quando vender milhões de exemplares, mas e daí?! Vou clicar em publicar esse texto e caminhar um pouco.

“Poltronas desconfortáveis e estradas esburacadas tentaram chamar sua atenção para os riscos que estaria prestes a correr. Quase que lhe avisavam debalde sobre o quão perigoso era esse lugar. Só que, às vezes, esquece-se dos riscos quando se tem um objetivo traçado; às vezes, esquece-se dos riscos quando se está envolto num forte sentimento. Ivo se encontra nesse duplo esquecimento.”

— Nunca pare de ter objetivos na vida.
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Giuliano Marley

domingo, 11 de outubro de 2009

Certificado Parlapatão Nº 50

Há exatos 40 domingos o Atestado Pedante fora criado por dois supostos fanfarrões, Fabiano Che e Giuliano Marley ( até hoje me pergunto o porquê desse sobrenome, seria por causa do cachorro?), com o objetivo de divulgar suas indagações e questionamentos ( a redundância é uma arte).
Tentando fugir do lugar comum blog-pedante-filosófico, vários temas foram abordados, de um papo com Deus à alma de ouro de tolo, da raposa no galinheiro livre à necrofilia da arte. Tudo isso com o intuito de mudar o mundo ou pelo menos inspirar uma criança.
Enfim, depois de 10 meses, chegamos ao post de nº 50. Será que alcançaremos o nosso objetivo de sacudir as pessoas para que acordem e saiam da prisão das certezas e verdades intuídas, ou pelo menos chegarmos ao centésimo post? Ou desistiremos de nossos ideais para nos adaptar ao mundo cruel? Não percam os próximos episódios...
P.S.: Acho que não escapamos do lugar comum...
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Fabiano Che (ditado pelo espírito A Direção)