sexta-feira, 16 de julho de 2010

Caretas não-pintados

O que diabos há com minha geração?

Minha geração chorou com o que aconteceu na França em 1998 e sorriu com o que aconteceu na Coréia do Sul e no Japão em 2002.

Minha geração assistiu a Os Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho, Dragon Ball Z e Pokémon.

Minha geração domina as mídias sociais de hoje em dia.

Minha geração passava Mertiolate e água oxigenada nas feridas enquanto a mãe dizia “Não vai doer. Eu assopro.”.

Bons tempos…

Mas que merda de geração inerte é a minha geração! Que bando de caretas moralistas. A geração Coca-Cola parece que está voltando. Ninguém mais quer lutar por nada. Nenhuma luta pelos direitos civis, nenhuma luta por um mundo melhor, nenhuma coisa prática.

Minha geração é careta. É abençoada pelo saber, pela aspiração ao conhecimento, pela informação. Minha geração vive atrás de um computador gritando #FORASARNEY como se isso resolvesse alguma coisa. Minha geração é corajosa, pois a Internet proporciona isso. Ela fica dizendo, repetindo, repisando que o mundo tem que mudar e não faz porra nenhuma. Pelo contrário, quando voltam ao mundo real, fazem o inverso do que escrevem por aí.

Depois de uma motivação descomunal com esse blog que surgiu no ano passado, na qual colaborei pra tentar mudar alguma coisa (principalmente percepção), confesso que me entreguei aos lobos. Desisti de fazer algo teórico e abandonei as ações práticas. Até o Dr. Fabiano Che me alertou sobre isso. Disse na ocasião “...blá-blá-blá, não há mais o sentimento daqueles de uma geração passada, na qual pintavam seus rostos e foram capazes de derrubar um Presidente da República [adaptado]”. Minha resposta a ele foi carregada de cumplicidade para com minha geração.

Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?

Mas há alguns dias assisto ao programa Sem Censura e a atriz Lúcia Veríssimo toca justamente nesse assunto. Ela disse algo semelhante numa entrevista à Istoé Gente: “Tenho 51 anos e minha geração lutou por mudanças políticas, sociais. Essa de agora me assusta. Converso com o pessoal que faz tevê, que é um ambiente supostamente mais aberto, e fico chocada. São jovens caretas e reacionários.”

Sinto-me envergonhado por estar num grupo de desinteressados que só reclamam e não fazem nada. É óbvio que existem suas exceções. Eu era uma.

Se a inércia fosse o maior de nossos problemas, ótimo!, ainda estaríamos lucrando. Sério. Mas o problema é o moralismo, a caretice. Em relação aos padrões comportamentais, em vez de progredirmos, estamos regredindo, quando a estagnação ainda seria uma boa.

Viu a Argentina? Acabaram de legalizar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Que progresso! Que ordem, irmãos! O primeiro da América Latina e o décimo no mundo. Enquanto isso, minha geração xinga muito no Twitter. “Só podiam ser argentinos! Blá-blá-blá... Adão e Ivo, blá-blá, plugue e tomada!”

É isso aí, Brasil! Estamos no caminho correto quando o assunto é manter o padrão em nossa história. O último país a abolir a escravidão acha inadmissível ver duas pessoas do mesmo sexo usufruindo dos direitos de um casal. Em 13 de maio de 1888, os TTs mundiais deviam estar repletos de indignação com a Lei Áurea. É brincadeira, né? É quase a mesma coisa. Um dia perceberão isso (ou não).

Sabe o que aconteceria se os gays pudessem se casar? Ah, muita coisa. Guerra atômica, apocalipse, famílias destruídas, derretimento das calotas polares e, acima de tudo, gays de casariam.

Minha geração é idiota. Minha geração é besta.

Até Eliza Samúdio não escapou. “Aquela puta maria-chuteira merecia morrer.” Não fode, tá? A mulher foi brutalmente assassinada, gente, então porque cargas-d'água insistem em querer difamá-la, expondo seu passado como atriz pornô? E não me venha com “pára o mundo que eu quero descer”, pois é você mesmo que tá ajudando a bagunçar nossa casa.

Minha geração acha que tem opinião, mas não percebe o quão manipulados são. É muito inteligente e criativa, contudo patética.