Começa como uma boa coisa. Você
ou alguém próximo sofre algum tipo de agressão moral, física ou intelectual
(risos). Indigna-se, mas não sabe o que fazer. Sofre calado. Esmurra a parede.
Maldita injustiça logo contigo, que nunca fez mal a ninguém. Então algo curioso
ocorre. Outra pessoa sofre a mesma agressão. Acha aquilo incrível! Não que você
seja sádico, longe disso. Simplesmente acha fantástico alguém que compartilha a
mesma dor que você. E se for alguém do sexo oposto então, perfeito. Duas
pessoas podem fazer muito mais que uma.
Você agora pode ficar horas
destilando ideias sobre como acabar com esse problema tão terrível. Creio que é
aí que a coisa começa a desandar. Continuando. Agora você levanta a cabeça.
Nota que dezenas, centenas ou milhares de pessoas pensam igual. Que
maravilhoso! Resolve convencê-las que juntos podem acabar com isso. Ficam
encantadas com seu discurso. Muitas choram, algumas até desmaiam de tanta
verdade que você joga na cara delas. Belíssimo espetáculo.
Agora todos te adoram como um semideus,
paladino da justiça. Nesse ponto que tudo se perde. Você se adora como um
semideus, paladino da justiça. Não mede esforços para eliminar aquela agressão,
a causa de tudo. O poder te envolve e te acalenta com seus braços quentinhos e
aconchegantes.
Os fins justificam os meios. As
pessoas entenderão quando a justiça for feita. Muitos dos seus primeiros seguidores
começam a te achar estranho, diferente. O discurso permanece, mas as atitudes
se deturparam. Uns mais corajosos até te comparam aquilo que combatem, o
Agressor. Pouco a pouco vão te abandonando.
Só que o “movimento” continua
crescendo. Estranho, muito estranho. Por que isso ocorre, você se pergunta. É
muito simples. Lembra daquela agressão que você sofreu no início do texto? Todo
dia centena de milhares de milhões de pessoas sofrem dela.
Por favor, não seja esse farol. E
essa vai pra você (não você que criou todo esse ismo, você que sofre dessa
agressão) não se junte a eles.
Um comentário:
Não consegui captar.
Meio que perdi o vínculo com o Universo, aquela sensação de "saquei!".
Procuro não me lembrar, pois surge nostalgia severa.
Namastê!
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