quinta-feira, 18 de março de 2010

Verdade, Bondade, Utilidade

Osnir é novo no trabalho. Ele entrou na empresa através de concurso há pouco tempo e sua aceitação pelos veteranos parece meio complicada. Complicada porque seus colegas com mais de 20 anos de casa pensam que Osnir vai roubar seus respectivos empregos.
Enquanto almoçavam, os antigos funcionários conversavam:
— E aquele tal de Osnir, hein? Não fala, é meio caladão — começou alguém.
— Eu nunca ouvi a voz dele — disse outro.
— Dizem que ele se diz um intelectual, por isso não fala com pião como nós — continuou mais um.
— É mesmo? Só porque é concursado ele pensa que pode ignorar a gente?
— Lamentável. Vou começar a ignorá-lo também.
— Um cara desse não merece respeito!
— Vou ver com ele o porquê disso. — finalizou Valdemir.
Osnir não é do tipo que fala muito. Culpa da grande experiência de vida, apesar da pouca idade. Ele sabe que sempre tem a oportunidade de ficar calado. Mantém-se sempre atento, ouvindo, e pouco se ouve da sua voz.
Outro dia, no horário de almoço, Valdemir, seu colega, veio lhe falar:
— Cara, porque você não fala com a gente, hein? Fica aí sentado, só ouvindo…
— Nada não.
— Fiquei sabendo de uma história sua aí, e tal…
— …
— Quer saber?
— Quero sim… Mas depende?
— Depende de quê?
— É verdade essa história aí? Tem certeza de que o que te contaram é verdade?
— Rapaz, sei não, foi o que me contaram… Os caras que estão falando aí.
— Ok, é o tipo de coisa que você gostaria que dissessem de você?
— De jeito maneiro!
— Não mesmo?
— Não mesmo!
— E é realmente necessário passar essa história adiante?
— Como assim?
— Essa história que dizem de mim, ela promoverá ganhos ao mundo ou a alguém? Ela é útil? É útil contar essa história ao mundo?
— Não, cara.
— Então eu não quero saber dessa história. Guarde-a para si mesmo.
— …
— Fique sentado aqui perto de mim só ouvindo…

7 comentários:

william gomes disse...

Um desfecho pra levar pra si.

Silêncio é verdadeiro, bom e útil. Temos até a morte pra descobrir isso.

Vanessa Gomes disse...

Silencioso como a bruma.

Esplêndido.

Ah, queria eu conhecer esse Osnir. Ia ser bom, de certo modo. Eu gosto de falar, ele gosta de ouvir. Mas eu gostaria de ouví-lo também, mesmo que o seu silêncio.
Ah, Osnir.

=)

Fabiano Che disse...

Esse Osnir me lembra alguém...

Presunçoso ele, não? Mas alguns dizem que presunção é uma coisa boa.

Sei lá, acho que pra você escrever esse post ia usar um coringa,só que ao bater a carta na mesa e gritar HAAA!!, todos viram que era um Rei de Ouros, uma boa carta mas não o curinga...

Giuliano Marley disse...

Por falar em coringa, bati duas cachetas agora há pouco.

[Estou viciado e cerveja e baralho, me ajudem!] [/sério]

Sim, te lembra alguém, mesmo, mesmo.

Conheça esse tal de Osnir e seu celular novo.

J.Soares disse...

Pode parecer sem sentido, mas o texto me lembrou o existencialismo de Sarte. "O ser Para-si só é Para-si através do outro".

Percebo um quê de auto-relato...
___
http://planetabandonado.blogspot.com/

Macaco Pipi disse...

MUITO BOM!!!!!!!!!!!!!!!!
VAMOS PUBLICAR!

Anônimo disse...

legal ai po
visita o meu e dexa um comentário lá?

dosalgadoaodoce.blogspot.com