quarta-feira, 8 de julho de 2009

Livremente determinado

Alberto não acreditava muito em videntes, mas aquela cartomante chamou sua atenção. Resolveu entrar em sua tenda, rindo de si mesmo por isso, e se consultar com a estranha senhora. A mulher trajava um vestido azul envolto em mantos, o que lhe dava um ar misterioso e levemente cômico. A velha o convidou a se sentar em um banco torto e começou a brincar com seu baralho. Você realmente deseja saber o que lhe é destinado, meu jovem? Perguntou a cartomante, acho que sim, respondeu Alberto um pouco sem jeito. Então a velha dividiu seu baralho em dois, tirou cartas de um e de outro, as espalhou pela mesa e em um transe fajuto murmurou:
— Terás uma bela mulher e dois filhos saudáveis, mas sua vida lhe será ceifada pelo mar.
— Que loucura! Não pretendo me casar e muito menos ter filhos, e nado feito um peixe! — e, dizendo isso, Alberto se levantou e saiu sem pagar a cartomante.
Muitos anos se passaram e Alberto se esquecera das previsões da velha. Não muito surpreendentemente, ele se casou e embora decidisse ter apenas um filho, seu segundo rebento acabara de nascer. Nessa mesma época, foi convidado a fazer parte de uma expedição de navio para o Alasca, a fim de pesquisar os efeitos do aquecimento global nas geleiras. Só quando já estava em alto mar, Alberto se lembrou da cartomante e, com um leve desespero, pensou, será que aquela bruxa estava certa? Tenho uma esposa linda, dois filhos e… Não, é só coincidência, tem que ser coincidência. Nesse exato momento, uma explosão acorda a todos, um dos motores do navio estourou não se sabe como, e abriu um enorme buraco na fuselagem do barco. Ele iria afundar.
Alberto se desesperou e, lembrando-se da previsão da cartomante, disse para si mesmo, não vou morrer, eu tenho que escapar. E, depois de procurar bastante, encontrou um bote e, sem que ninguém notasse, o colocou em alto mar e saiu remando para longe dali. O que ele não percebeu é que uma lancha de resgate tinha acabado de chegar do outro lado do navio.
Depois de remar por várias horas sem rumo, Alberto estava exausto. Deitou-se no bote e pôs-se a meditar, acho que tudo isso foi em vão, fugir do seu destino é impossível. E, ao dizer isso, deixou seu corpo cair no mar e, sem mais lutar, aceitou seu “destino”. No entanto, se ele estivesse esperado mais cinco minutos, veria um navio cargueiro vindo em sua direção.
Não podemos mudar nosso destino ou estamos destinados a criá-lo?
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Fabiano Che

4 comentários:

Vanessa Gomes disse...

Em resposta a tua pergunta, só o tempo dirá.
Ótimo texto, ótimo.

Clap, clap, clap!

william gomes disse...

Para quem acredita em destino, basta viver e dizer que a culpa de tudo "é o destino".

E para quem não acredita, basta viver.

Depois que acabei de ler o texto, não deixou a desejar.
Bem contado! Detalhes relevantes, sem prolixidade!
Muito bom mesmo!

Juliana Almirante disse...

oi
=)

é bem mais fácil não acreditar no destino, nesse caso, qndo se é um narrador consciente... rs

qnto a tua pergunta, sou mais aberta a "teoria do caos", cada atitudezinha nossa, aliada a outras circunstâncias externas vai ajudando a construir o futuro.

Welma disse...

É como sentenciou Sartre: "O homem está condenado a liberdade!"

Vamos pra vida???

Abraços!