domingo, 12 de abril de 2009

Queimem a bruxa

Há muito tempo atrás, em uma vila muito distante de tudo e de todos, viviam camponeses simples e, talvez por isso, muito supersticiosos. Em meio a esses vilães, havia uma senhora que se destacava tanto por sua aparência incomum e por sua admirável sabedoria. Ela possuía uma enorme verruga na ponta do nariz, e por ter uma perna menor que a outra, usava uma velha vassoura como uma bengala. A velha era uma espécie de conselheira da vila. O valor que as pessoas do vilarejo davam aos mais sábios era tanto que praticamente ninguém procurava a pobre senhora, mas quando alguém solicitava algum conselho seu, sempre ficava maravilhado com a incrível sensatez da velha.
As coisas seguiam seu rumo natural, até que em uma tarde chegaram à vila uma tropa de cavaleiros de armadura prateada e com uma bandeira com uma enorme cruz no centro. E mais estranho ainda era seu líder, um homem magricela, com uma túnica e um velho livro de capa preta na mão. Os habitantes dali logo se reuniram em volta dos excêntricos visitantes. Os camponeses se olharam mais curiosos que assustados, em um silêncio que logo foi quebrado pelo chefe dos cavaleiros:
— Não temam, pois estou aqui em nome de Deus para protegê-los de todo mal!
Os vilães se entreolharam e um deles perguntou:
— Qual mal?
O cavaleiro-chefe não conteve um suspiro quando disse:
— A ignorância é uma benção. Por acaso não sabe que esse reino está sendo assolado por bruxas?
Os camponeses estremeceram ao ouvir aquele nome, não faziam a menor idéia do que eram bruxas, mas parecia uma coisa horrível.
O que é uma bruxa? — perguntou uma menina. O cavaleiro-chefe parecia soltar fogo pelas narinas quando respondeu que bruxas eram adoradoras do demônio. Todos pareciam desesperados agora. Demônio? Oh, meu Deus! Ao longe alguém pensou em perguntar quem era o demônio, porém achou melhor não dizer nada. O cavaleiro-chefe exigiu silêncio e então disse em voz alta:
— Bruxas se disfarçam de pessoas normais, mas têm algumas marcas, como grandes verrugas, voam com vassouras e possuem gatos pretos. Vocês conhecem alguém assim? Lembrem que estão ajudando a Deus se me ajudarem.
Em um assombro, várias pessoas gritaram horrorizadas:
— Tem uma velha aqui cheia de verrugas e muitos juram que já a viram voando com sua vassoura!!
— Eu já vi — gritou outro.
Um menino chegou apressado na casa da velha senhora para contar o acontecido e a encontrou gravemente enferma sentada em uma rústica cadeira na varanda. Depois de ouvir o relato do menino ela disse:
— Não fiz nada de errado, então nada temo.
Não muito depois disso, os cavaleiros e a população enfurecida chegaram à casa da velha. O cavaleiro-chefe falou alto:
— Você é acusada de blasfêmia e adoração do demônio. Eu, em nome da misericórdia de Deus, lhe concedo a graça de se arrepender antes de ter sua alma purificada pelas chamas.
—Você acha misericordioso eu me arrepender de uma coisa que não fiz e muito menos sei o que é, antes de ser jogada na fogueira? — respondeu a velha. Antes que o homem pudesse retorquir, ela continuou:
— E como sabe o que deus pensa? E com que autoridade fala em nome dele?
— Como ousa? Autoridade concedida à minha pessoa foi pela Santa Igreja. Deus nos diz o que quer através das Sagradas Escrituras. — disse o homem.
— Então ele diz que podem matar em seu nome, só porque eu… Desculpe, mas sou acusada de quê mesmo?
— De bruxaria — gritou um camponês.
— É porque todos que têm verrugas e vassouras são bruxas — gritou outro.
— Ah, claro, quer dizer que sempre que precisaram de mim eu era apenas uma velhinha inocente, agora que esses estranhos chegaram sou uma bruxa? — Ninguém nada disse.
— Então vocês vão deixar essas pessoas lhes dizerem o que fazer e pensar só por que elas falam em nome de um deus que vocês nem conhecem e que se diz misericordioso, mas que na realidade julga e pune com extrema crueldade?
O fim dessa história não se conhece, mas só se conta que, naquele dia, um pouco mais tarde, ao longe, se via uma enorme coluna de fumaça vindo da direção da vila…
O Atestado Pedante não é um blog de contos, mas resolvi dar uma diferenciada. Sintam-se à vontade para jogar tomates se não gostarem, mas, por favor, não atirem pedras, elas machucam…

2 comentários:

william gomes disse...

Bem costurado.
Soube dispor a sequência dos fatos narrados envolvendo o leitor com descrições pertinentes.

Até o próximo!

Anônimo disse...

*tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* *tomatada* , o bom dessa historia é ver a bruxa ser queimada :D